O PIVETE FUZILADO PELO  ESTADO

O menino cresceu
descalço e sujo
vivia vagando
correndo nos becos
como rato de esgoto
esgoto a céu aberto
na Favela do Piolho
no Campo Belo
bairro de grã-finos
São Paulo, Capital.
Estômago roncando
menino com fome

menino cabuloso
buscando ser famoso
infestado de piolhos
do Piolho pro mundo
caiu na vida "loka".
"Dejesus" ganhou as ruas
dormindo sob viadutos

embrulhado em jornais

para enganar o frio
mais de 20 passagens,
pelos abrigos infantis,

driblando os pedófilos
maltratado, cuspido, pisado
o infante "Dejesus" afanando
criando casos, perturbando
arisco e hiperativo.
O pai cumpre pena,
tráfico de drogas
a mãe já cumpriu
vivia assaltando.

Porra-louca
é o DNA de "Dejesus"
longe da escola
cheirando cola
largou da bola
queria ser  ser jogador

um novo Messi talvez
sem brinquedos
sem papais-noéis
sem coisa alguma
não sabia brincar
vivia o dilema
moleque problema,
sob o olhar intrigante
da sociedade egocêntrica
que jogando moedas
alguns trapos

tênis furados
restos de comida
sem respostas

dá as esmolas
e vira as costas.
O Estado omisso,
não soube cuidar
mostrar o caminho
ao "Dejesus" insubmisso.
Não tenho nada com isso
dane-se o pirralho enguiço
melhor tirar de circulação
descartar, dar um sumiço
foi abatido a bala
um tiro na cara
no olho esquerdo,
tiro para esculachar, matar
Dejesus de ninguém
filho de ninguém
Dejesus favelado
um pé de chinelo
ainda mijando na calças
que o Estado matou
matou sem piedade.
Se fosse filho de um corrupto
o Estado corrupto
usando do dinheiro público
o adotaria de boa
cuidaria do infante
disponibilizando:
psicólogos
odontólogos
sociólogos
teólogos
e outros ólogos
paparicando o menino
10 anos de vida
apenas 10 anos
morreu como um rato
furado na cara
chutado na bunda
sem misericórdia.
O Estado omisso matou
matou o pirralho
sem chance na vida
morreu sem sonhar
morte de bala
ou morte de cruz?

Pergunte ao Estado.
Foi sepultado
numa vala comum
o menino Dejesus.

São Paulo, 13 de junho de 2016
Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)

Obs: Para o pirralho Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, (10 anos), abatido a tiros pela Policia Militar no dia 02 de junho de 2016 na cidade de São Paulo (SP)