É claro
É claro
Que o futuro nunca existiu
Essa coisa límpida
Tão alva e clara
Onde caberiam
Todas as felicidades
Onde não existiriam
As incertezas e os engodos
Mas o futuro
Nunca existiu
Nunca chegou
E todos ficaram na mureta
Esperando
Velando pela chegada
Do esperado futuro
Leram as notícias
Analisaram os tratados
Coletaram informações
Os vestígios
E traçaram a esperança
Com cores tão fulgurantes
Que valia a pena
Esperar pelo futuro
Pintou-se a frase no muro
Futuro vem
Que aqui te aguardamos
Com as melhores certezas
Todos esperaram
Esperaram e esperaram
Caíram as folhas
Amarelaram as páginas
O mofo azedou os lírios
A brisa soprou fria
O cristal partiu-se sozinho
E antes que a noite
Por fim cobrisse tudo
Veio a notícia
Nunca houve
E nunca haverá futuro