O Trem
O barulho da engrenagem
Afinado em mi bemol
Regido pela perfeita orquestra
do mecânico pôr-do-sol
Rastro de nuvem fina
Se esvaece em céu poente
A noite se aproxima
Em um céu laranja, sobrevivente
Recostado na janela
Olho o mundo passageiro
Sem bilhete, nem destino
O preço é pago o tempo inteiro
Um verde infinito se desenha
Ora é mar, ora é montanha
Ora é plano, ora é raso
É calmaria que o vento assanha
Um distante som do berrante anuncia
O peão tocando o gado
Um deles olha admirado
Uns outros olham assustados
No meu banco a companhia
É uma velha maleta de couro
Com umas poucas roupas mal dobradas
Com muita prata e pouco ouro
Afoga-se o sol no horizonte
Estrelas nascem como miragem
A única certeza que tenho
É que esse trem ainda fará longa viagem…