Ânimo
Às vezes, falta-me ânimo
Ânimo com todas as exigências da vida
Com todas as expectativas sobre mim impostas
Pela família, pela sociedade, pelo patrão
E por tantos outros que esperam que eu dê sempre
O meu melhor.
Às vezes, o que eu quero é apenas ficar só
É chorar as minhas dores em minha caverna
É escutar o som do silêncio que tanto aprecio
É visitar os meus próprios pensamentos
Sem me importar com o que os outros pensam
Ou com o que querem me levar a pensar.
Falta-me ânimo, sobram-me dores!
Dores no corpo trazidas pela idade que avança
Dores na alma fustigadas pela minha própria história
A dor de existir e o seu peso
A dor de saber e a sua responsabilidade
E, às vezes, a dor do não saber coisa alguma.
Às vezes, até tenho vontade de não ser mais eu
De penetrar nas páginas de um livro de ficção
E de lá jamais sair
Buscar um final sempre feliz para minhas histórias
Sejam elas de amor, de superação ou qualquer outra
Mas estar em qualquer lugar que não aqui
Em qualquer vida que não essa
E que seja a melhor.
Falta-me ânimo, faltam-me passos
Faltam-me palavras, faltam-me experiências
Falta-me um amor e o desejo de vivê-lo
Às vezes, a alegria me falta e a paciência, também.
Às vezes, sinto-me nada, acho-me ninguém
E de fato ajo como se não fosse.
Às vezes, penso sobre uma ilha deserta
Sobre partir e não voltar
Sobre terminar tudo que comecei
Sobre iniciar tudo o que posterguei
Sobre cessar movimentos inúteis
Sobre dar um fim a costumes fúteis.
Mas em tudo, falta-me ânimo
Em tudo.
Mas se me falta ânimo, abunda a fé
Fé em Deus, na sua Palavra, na sua vinda
Porque somente a fé me anima
Somente ela me faz insistir em continuar.
Mesmo quando os meus pés já estão cansados
Mesmo quando minha menta se esgota
Mesmo quando pedras me são atiradas
Eu sigo em frente
E digo a mim mesmo: Coragem! Enfrente!
De resto, falta-me ânimo.
Este poema faz parte do livro “Memórias do Vento: poemas que o vento trouxe”, de Mizael Xavier. Todos os direitos reservados. Lei 9.610/98.