O SEGREDO DO MENINO
Veio à luz com máximo conforto
Na hora do parto nenhum anjo torto
Pousou sobre seu berço
Anunciar outro “gauche”
Ao oposto, a avó com todo gosto
Apertou o terço, em oração
Murmurou dúzias de novenas
Por excesso de fé
Não foi batizado apenas
A benzedeira perfumou-o
Da cabeça aos pés
Com Água de cheiro
A cartomante jogou tarô
Por superstição do avô
A cigana leu a mão
Assim, não seria a falta de benção
Que a sorte lhe falharia
Ou a vida ser-lhe-ia perversa
O garoto, de boa conversa,
Horas ao ócio, sob o sol
Observava o dia passar
Esperando vir o luar
Encantava-se com a luz do farol
Espiava os casais na praia
Namorados na areia
Desejos saltando nas veias
Mãos escondidas nas saias
Cresceu, perdendo-se na cidade
Circulava pelas quebradas,
Ruas escuras, quantas loucuras
No fim das noites no bar,
Acenava a saideira ao garçom
No guardanapos do balcão
Escrevia alegrias e tristezas
Algumas mentirosas proezas
Inúmeros pecados,
Das efêmeras namoradas
Batera alto sua asa
O que fizeram errado?
Penitenciavam-se na antiga casa
Quantos castigos num canto
A mãe deixara-o, sem dó
Erramos em algum quebranto
Reclamava a avó ao Santo...
“Não há nada errado,
Tudo perfeito e certo!”
Seminua e sem pudor,
Linda como miragem no deserto
Surge Afrodite, deusa do amor...
“Flechei o coração deste menino
Com uma poção secreta
Terá sagrado destino:
Descrever a vida invisível
Dizer que o sonho é possível
É um ser quase incorrigível
Ele é um poeta!!!”