O SEGREDO DO MENINO

Veio à luz com máximo conforto

Na hora do parto nenhum anjo torto

Pousou sobre seu berço

Anunciar outro “gauche”

Ao oposto, a avó com todo gosto

Apertou o terço, em oração

Murmurou dúzias de novenas

Por excesso de fé

Não foi batizado apenas

A benzedeira perfumou-o

Da cabeça aos pés

Com Água de cheiro

A cartomante jogou tarô

Por superstição do avô

A cigana leu a mão

Assim, não seria a falta de benção

Que a sorte lhe falharia

Ou a vida ser-lhe-ia perversa

O garoto, de boa conversa,

Horas ao ócio, sob o sol

Observava o dia passar

Esperando vir o luar

Encantava-se com a luz do farol

Espiava os casais na praia

Namorados na areia

Desejos saltando nas veias

Mãos escondidas nas saias

Cresceu, perdendo-se na cidade

Circulava pelas quebradas,

Ruas escuras, quantas loucuras

No fim das noites no bar,

Acenava a saideira ao garçom

No guardanapos do balcão

Escrevia alegrias e tristezas

Algumas mentirosas proezas

Inúmeros pecados,

Das efêmeras namoradas

Batera alto sua asa

O que fizeram errado?

Penitenciavam-se na antiga casa

Quantos castigos num canto

A mãe deixara-o, sem dó

Erramos em algum quebranto

Reclamava a avó ao Santo...

“Não há nada errado,

Tudo perfeito e certo!”

Seminua e sem pudor,

Linda como miragem no deserto

Surge Afrodite, deusa do amor...

“Flechei o coração deste menino

Com uma poção secreta

Terá sagrado destino:

Descrever a vida invisível

Dizer que o sonho é possível

É um ser quase incorrigível

Ele é um poeta!!!”

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 16/05/2021
Código do texto: T7256582
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