OS CAMINHOS DO AMOR

Se você, leitor iniciou a leitura desta página tão somente atraído pelo tema do amor entre casais, permaneça lendo. Mas não é deste amor que tratarei primeiro.

Fala-se de amor, ensaia-se amar, prega-se, coloca-se o amor em palestras, em cursos, filosofa-se. Precisamos destas vertentes para se chegar ao Amor? Precisamos mesmo de uma gramática amorosa? Ama-se, amando. Como amar amando? Esperando, tentando, dando chances ao Amor, exercitando-o. Assim como se faz para aprender a dançar.

Lembra do seu primeiro beijo? Do seu primeiro amor? Ah, agora você reconhece como era incompetente.

Será o Amor uma invenção pois necessita treino?

Jesus amou e, por amar tanto, foi castigado em uma cruz, onde pregado não poderia abraçar. E chamaram seu Amor Paixão. Paixão regada a sangue sagrado. Talvez quem ama seja o menos amado e, por isto mesmo, saiba amar.

O Amor não pode ser colocado sobre, como um adesivo. Amor é entranhado.

Como se pode afirmar “eu amo aquele malfeitor”, sem ser Cristo e sem mentir?

Amar é tão íntimo, tão recôndito, tão mistério que nunca se terá certeza do amor do médico pelo seu paciente, do professor pelo seu aluno, do escritor pelo seu leitor.

Amor de mãe é amor certo. Já o de filho... Digamos sim. Mas, a mãe amando o filho está se amando. O sentido de interesse nos impossibilita de ter certezas sobre a pureza dos sentimentos.

É penoso voltar o foco para o outro quando nos interessa brilhar. Somos, então, o nosso próprio ideal de Amor?

Espera-se do Amor a medida da loucura, da inconseqüência, do ato máximo. É, se sabemos o Amor um sentimento, sabemos também da impossibilidade de pesá-lo, medi-lo. É sem regras mesmo o Amor. Talvez por ser assim nos agrade tanto. Ele é um convite à euforia, à liberdade, à totalidade. Quem sabe não mantemos com ele uma relação mais estreita por não sermos eufóricos, livres, nem totais.

Se procuramos caminhos para encontrar o Amor, não o conseguiremos. O Amor não anda por caminhos por serem estreitos. O universo é estreito é finito para ele.

Mágico, bruxo, sortilégio, imprevisibilidade, o Amor não é cego. Vê bem e escolhe, decide, seduz, subordina. A doce subordinação do Amor. E, “eterno enquanto dure”, pois também decide sobre quanto tempo permanece no seu eleito. De repente vai. Some da sua vista como uma colorida bolha de sabão em se desfazendo.

O Amor não namora, não noiva, não casa, não assina papéis, e independe de testemunhas. O Amor é um doce vagabundo.

Não proponha falsos moralismos e julgamentos medíocres pretendendo sistematizar o Amor. Como na canção moderna, ele responderá: “Tô nem aí”.

Camões, Shakespeare, Vinícius, Drummond e muitos outros tentaram compreender o Amor e não chegaram a um termo. O Amor é. Ou não é.

Aracaju, 2003