Maria

Maria nunca fora muito inteligente

Desde moça era espalhafatosa, gostava da moda e de acompanhar as tendências

Quando uma tendência passava, logo tratava de largar e partir para a próxima

Maria era bela, gostava de se pintar

De noite saía toda pomposa, ia prosear, saber das novas, e principalmente, contar lorotas

Gostava da farra, bebia, fumava charutos, usava de tudo, gostava de posar

Bradava e ria alto, gostava de abrolhar

Aos fins de semana ia desfilar sua pompa pelas ruas principais, mostrar a beleza, chamar a atenção, gostava de ser cortejada

Maria só falava asneiras e superficialidades

De resto, não ligava. Era sempre rasa, e contentava-se, achava-se muito sabida

Aos vinte e pouco encontrou um rapaz, o príncipe encantado que sempre sonhara

Cinco meses depois estava grávida

Nada sabia sobre aquilo

Também, não fazia nada, mas levava vida de aristocrata, sua família tinha dinheiro e o bebê já ia nascer com tudo o que tinha direito

Na gravidez fumou, logo depois também

A mãe verdejava de alegria, sempre quisera ter um neto

Não ligava que a filha nada fazia, sustentava seus vícios e sua boa vida

No entanto, no fundo, Maria não queria o filho

Mas procurou de todas as maneiras provar a si e aos outros que aquilo era a melhor coisa que lhe acontecia

A criança nasceu no verão

Saudável e bela

Mal aquela criança sabia o infortúnio que lhe aguardava

Já Maria, para a sociedade, fingia ser boa mãe

Fingia dar conta do súbito que lhe aparecera

Porém, mal sabiam, ou sabiam

Nada mudara

Maria passava a maior parte do tempo a se pintar e a se olhar no espelho

Se admirava enquanto chupava o cigarro e soltava fumaça

No quarto, a criança chorava

Que infâmia!

Erica C Moscardini
Enviado por Erica C Moscardini em 14/05/2021
Reeditado em 15/11/2022
Código do texto: T7255721
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.