Maria
Maria nunca fora muito inteligente
Desde moça era espalhafatosa, gostava da moda e de acompanhar as tendências
Quando uma tendência passava, logo tratava de largar e partir para a próxima
Maria era bela, gostava de se pintar
De noite saía toda pomposa, ia prosear, saber das novas, e principalmente, contar lorotas
Gostava da farra, bebia, fumava charutos, usava de tudo, gostava de posar
Bradava e ria alto, gostava de abrolhar
Aos fins de semana ia desfilar sua pompa pelas ruas principais, mostrar a beleza, chamar a atenção, gostava de ser cortejada
Maria só falava asneiras e superficialidades
De resto, não ligava. Era sempre rasa, e contentava-se, achava-se muito sabida
Aos vinte e pouco encontrou um rapaz, o príncipe encantado que sempre sonhara
Cinco meses depois estava grávida
Nada sabia sobre aquilo
Também, não fazia nada, mas levava vida de aristocrata, sua família tinha dinheiro e o bebê já ia nascer com tudo o que tinha direito
Na gravidez fumou, logo depois também
A mãe verdejava de alegria, sempre quisera ter um neto
Não ligava que a filha nada fazia, sustentava seus vícios e sua boa vida
No entanto, no fundo, Maria não queria o filho
Mas procurou de todas as maneiras provar a si e aos outros que aquilo era a melhor coisa que lhe acontecia
A criança nasceu no verão
Saudável e bela
Mal aquela criança sabia o infortúnio que lhe aguardava
Já Maria, para a sociedade, fingia ser boa mãe
Fingia dar conta do súbito que lhe aparecera
Porém, mal sabiam, ou sabiam
Nada mudara
Maria passava a maior parte do tempo a se pintar e a se olhar no espelho
Se admirava enquanto chupava o cigarro e soltava fumaça
No quarto, a criança chorava
Que infâmia!