A MATEMÁTICA

“É a coisa mais bela do Universo. Tudo é Matemática. A Lua é Matemática, o Sol é Matemática. Tudo no Universo é Matemática,” dizia, empolgado, o professor Antônio Joaquim durante suas aulas no Instituto de Educação Ruy Barbosa. As alunas ouviam aquele belo e inteligente homem repetindo os elogios à Matemática. Umas acreditavam piamente, outras duvidavam. Outras tantas sentiam raiva do mestre, mas, àquela época o professor era sagrado. Quem ousaria?

A manhã deslizava solene e eu pensava: nada disto é verdade. Uma frase surgia na minha mente. Surgia, desaparecia, voltava: “Há mais coisas entre o céu e a Terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia”. Este era o segredo e, então, nem tudo era Matemática.

Voltando a fita para o professor: era bom em Matemática, bom em didática, bom em metodologia .Por que eu não entendia? Fingia, fazia de conta, aprovava com a cabeça,“eu me virava em espertezas”. Não queria que o professor nem as colegas percebessem aquele horror: eu era uma retardada, um ser estranho que não conseguia compreender a Matemática, isto é, aqueles desenhos brigando no quadro.

Depois, aos poucos, em conversas curtas e estratégicas para não revelar o meu “defeito”, descobri serem muitos os “defeituosos”.

Apenas uma adolescente estranha, uma CDF, uma feia detrás de grossos óculos conseguia decifrar os hieróglifos do código da Matemática.

Claro, essa raridade foi desprezada, deixada de lado intencionalmente pelas colegas.

O professor marcou o peste, isto é o teste. Precisávamos fazer as pazes com a figura estranha. A vingança nos esperava. Do alto da sua sapiência a “sapa” saboreava matematicamente a vingança. Gelo geral. É, está certa. Merda! Vá à merda, sua bruxa, traste ruim.

Dia de fabricação de tirinhas de colas. Nem isto sabíamos fazer. Colar em Matemática é pior do que botar o ovo em pé.

Zero, zero e mais zero.Bicicletas, carroças e até carretas de zeros. Enfim, zero também é Matemática.

Não sei até hoje porque professores de Matemática afirmam que zero é nada. Bobagem! Zero é zero. Zero é tudo. Zero adoece e pode até matar. Tome zero a vida inteira e você verá o resultado. Resultado! Mais uma vez a Matemática. O professor tinha muita razão.

Estamos no ano de 2003. De 1960 para cá, façamos a conta, são 43 anos! Quatro dezenas e três unidades. Calculemos agora quantos dias, quantas horas, minutos e segundos. Deus me livre deste cálculo! Vocês que gostam, divirtam-se!

Sim, passaram-se intermináveis 43 anos e o ensino da Matemática continua dando problema. Em todos os sentidos.

Que problema é este para o qual não há solução?

As forças do Bem estão derrotadas. O Mal impera, tiraniza. Talvez, se apelarmos para a ignorância, seja melhor chamar Bush.

Cessando um pouco o fogo, o caso é de se perguntar:

• Por que não há uma intensa e efetiva alfabetização em Matemática?

• Por que não se faz uma dosagem mais humana de conteúdos e exercícios?

• Por que não se ensina Matemática através da música?

• Por que não se abre mão do segredo?

• Por que Freud não explicou esse sadismo cultivado?

• Por que muita gente finge que não sabe quanto as aulas de Matemática são também culpadas pelo constrangimento e pela evasão escolar?

• Por que há constrangimento e não se busca a justiça?

• Por que alguém deve se apaixonar por equações, ou ter um caso com a raiz quadrada? Aliás, por que é raiz e por que é quadrada?

• Por que não se promove um fórum de debates para estudar tantas incógnitas?

• Por que ninguém assume a culpa por tantos alunos que não conseguiram ser alguém por não terem entendido o mundo dos números?

• Por quê? Por quê e por quê?

Esta é mais uma causa para Santo Expedito.