SILÊNCIOS CONCÊNTRICOS
Inacessível, diz você,
feito ninho de águia ou mesmo condor
ou qualquer das aves jamais vistas aqui.
Um ninho, claro, não tão auspicioso
nem tão cheio de vida
na austeridade das rochas entre as nuvens,
nada assim tão inspirador
Sob tão benevolente sol de maio,
o milagre improvável das certezas repentinas.
Algo assim, diz, você –
o meio termo entre desafio e ofensa gratuita,
fenômeno, portento, acaso ou uma ilusão.
O limiar duma aurora inesperada
que supre de silêncios e distância
as tentativas de compreensão
Intraduzível mesmo se diz ‘céu’.
Elevados assim
às especulações não diluídas no azul mais contencioso,
um brasão de armas da eternidade,
somos estranhos
na paisagem tão estranhamente alegre
Alheia a motes e paixões da turba
lá embaixo, a caravana de reminiscências
e remorsos que se ausenta qual rebanho sem pastor.
Indiferente, insistirá você,
embora atento à minúcia do instante,
do sussurro da brisa à arruaça
dos pardais nos ramos do limoeiro
Intenso em seu estar à parte
feito um dia revogado por eclipse
ou rumo que se perca
em nunca ter destino ou algo assim.
O mesmo e ao mesmo tempo
a multidão dos que partiram
à espreita em seu olhar, dirá você.
Eu sei – não somos nada parecidos
senão pelos silêncios concêntricos
contagiosos
E incontestáveis feito a morte.
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