SILÊNCIOS CONCÊNTRICOS

Inacessível, diz você,

feito ninho de águia ou mesmo condor

ou qualquer das aves jamais vistas aqui.

Um ninho, claro, não tão auspicioso

nem tão cheio de vida

na austeridade das rochas entre as nuvens,

nada assim tão inspirador

Sob tão benevolente sol de maio,

o milagre improvável das certezas repentinas.

Algo assim, diz, você –

o meio termo entre desafio e ofensa gratuita,

fenômeno, portento, acaso ou uma ilusão.

O limiar duma aurora inesperada

que supre de silêncios e distância

as tentativas de compreensão

Intraduzível mesmo se diz ‘céu’.

Elevados assim

às especulações não diluídas no azul mais contencioso,

um brasão de armas da eternidade,

somos estranhos

na paisagem tão estranhamente alegre

Alheia a motes e paixões da turba

lá embaixo, a caravana de reminiscências

e remorsos que se ausenta qual rebanho sem pastor.

Indiferente, insistirá você,

embora atento à minúcia do instante,

do sussurro da brisa à arruaça

dos pardais nos ramos do limoeiro

Intenso em seu estar à parte

feito um dia revogado por eclipse

ou rumo que se perca

em nunca ter destino ou algo assim.

O mesmo e ao mesmo tempo

a multidão dos que partiram

à espreita em seu olhar, dirá você.

Eu sei – não somos nada parecidos

senão pelos silêncios concêntricos

contagiosos

E incontestáveis feito a morte.

.

Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 09/05/2021
Código do texto: T7251732
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