A TORRE DE PAPEL
A morte de Deus ressuscitou o filho
no segundo dia depois da chuva.
Foram ver os prantos descendo
as escadas desenhadas por rochas
antigas poças vermelhas do crime
que o pastor herege cuspia moedas
pela boca quando falava da louca
de olhos vidrados rejeitando este filho.
O que era maldito podia ser entendido!
O que era sofrido era aceito como destino.
O que brilhava na escuridão
O que da escuridão podia ver além
Quem dormia tranquilo sobre a lua
E dançava na terra úmida sob o sol
Deveria ser toda distância profunda.
A miséria era buscada querida e venerada
Miséria das letras das conjuntivas
abertas ao que era pecado saber antes
daqueles todos levantando suas mãos
ao Deus morto que tinha agora o nome
de qualquer céu limpo e claro de qualquer
sombra com brisa leve no calor do dia
O filho do último sol com nome de gente
era estupido passivo parecido com todo
mendigo com voz de santo trazendo
milagres aos olhos doentes dos ricos
dos pobres de espírito dos pobres de comida
dos pobres invadidos de verdades úteis
E dos fúteis gracejando suas barbas
seus corpos sua vocação mediana blindada
pelos pais "a continuação da besta
tinha sempre uma sexta-feira pra ir ao circo"
Por quê Deus continuaria vivo numa
pedra esculpida ? Por quê um filho traria
uma beleza sadia aos famintos ?
Se teu sangue era um vinho feito pra beber
então o moribundo jogado no chão
rindo de todos tem teu sangue derramado?
A promíscua entre os falos enlouquecidos
era uma mãe santa ordenhando seus filhos?
O segundo dia depois da morte do que era
divino e altíssimo caminha nas trilhas terrenas
e baixas a procura de vestígios da magia perdida.