Retomada

O Rio de Janeiro não é um poema

São gotas de sangue pintando as paredes

Nos becos, nas favelas, no alvo

Não dá pra ficar sentado no telhado

Queria raspar minhas unhas no asfalto

A morte produz bonecos espalhados

Sem rostos, nomes e estórias

Cancelados em um projeto ensandecido

Voraz e sem fim e com sede infinita

Fogo no pasto

Óleo no mar

Placebo no respirador

Outras formas de projéteis espalhados

Entre as páginas dos livros ancestrais

As bandeiras recolhidas criando mofo

O ódio desfilando na avenida

Reverbera vitórias e conquistas

De coisas vãs e sem futuro

A fome arde nas ruas

E jogam a culpa

Nos que não tem pra onde ir

Nem o que fazer em meio ao caos

Há um muro dividindo o povo

Os que morrem deixam lástimas

No rosto dos que não conseguem entender

Que apenas o momento é passageiro

Mas, a saudade é eterna e dolorida

Ainda não há pontes, só devaneios

Precisamos recolher os pregos e parafusos

Retomar a vida escorrida

Celebrar a esperança que escorre pelo ralo