Pleno direito
Estou relatando,
Você nem pensa, não sente e não sabe
Você nem nota se choro ou sorrio
Desvia o olhar e finge não me enxergar.
Quer ouvir?
Pouco me importa se não sou seu agrado
Eu me agarro na força
Que sai de mim
Para poder suportar esse não eu
Nesse corpo preso
Que não desejo ser.
Você me espanca , me cospe e vomita
Você nem acredita, mas ontem pensei em desistir...
Não pense que é fácil suportar esse fado,
Me olhar no espelho
E não me reconhecer.
Quem sou eu na verdade?
Existe verdade, de fato, para ser?
Existe alguém aqui
Que sofre
Que ama
Que sente
Fica ausente da vida
Porque ela se anula
Quando é chamada por um nome
Que não a representa.
Sua sentença ajuizado
No achismo não tem valor humano
É o pano envolto da nojeira
A soberba indecência dos que só quem condenar...
Mas eu me absolvo dessa culpa
Não existe culpa
Onde não há pecado.
Já estou do lado de fora
Aflorei minha existência do sei que sou...
Meu nome é João, Lucas, Alexandre...
Pedro, Osmar, Sebastião
Não preciso ter cunhão
Para ser homem com H.
Está no meu documento,
Exijo respeito e tento
Porque somos iguais
Na forma da lei.
Passou a sua vez,
Agora sou eu...
Você não pensa
Não sente
Não sabe
Mas essa é a verdade
Que absorvo em mim....
Sou livre, leve, embora tenha desgosto
Porque no seu olho vejo
Que você não me quer assim.
Sua intolerância é prepotente:
Mata, violenta, agride
Nossa gente Trans
Que só luta pelo direito pleno
De existir.
Eu relato, não vão me calar
A vida é nossa, nos chama
E a gente vai indo
Construindo esse caminho
Que já não tem mais volta.
Abra a porta, faz favor
Eu preciso atravessá-la.
Meu corpo? Presente!
Na luta? Presente!
Meu nome? Presente!
Na vida? Presente!
Mesmo que o meu sangue escorra
Minha voz não há de calar.
Presente