QUE SAUDADE DA BAGACEIRA!
Que saudade, que saudade,
De brincar na bagaceira
Do engenho de meu avô!
Pois aqui nesta ribeira
É lugar de brincadeira
Dos moleques, sim senhor!
Que saudade, que saudade,
De brincar na bagaceira
Do engenho Corredor!
Sem temer nenhum regaço,
Fingindo ser do cangaço
O melhor atirador!
Que saudade, que saudade,
De brincar na bagaceira
Pra mostrar o meu valor!
Que mando em todo bagaço,
Que sou o rei do cangaço
E o dono do Corredor!
Que saudade, que saudade,
De brincar na bagaceira
Pra depois correr pro rio!
E como fosse um cassote,
Mergulhar dando um pinote,
Sem temer gripe nem frio!
Que saudade, que saudade,
De brincar no meu Pilar,
De ter tudo o que não tenho!
De ser preto, de ser pardo,
De ser Moleque Ricardo,
De ser menino de engenho!
— Antonio Costta
(Fazendo alusão a infância do menino de engenho José Lins do Rego)