NÓ DE MARINHEIRO

Ah, o amor quando se faz calado,

esquecido das cores e sons,

como se fosse folha seca ao chão.

Ah, o amor quando se faz tardio,

feito saudade ressecada e triste,

como se fosse sangue encalhado nas veias.

Ah, o amor quando se faz rabugento,

tanto que dá dó, que dá pena,

feito flor despetalada qualquer.

Parece que não tem remédio, nem razão,

daí o coração se desmantela, se desfaz,

daí a alma se espanta, se engarrafa, se adoece,

daí a vida perde o riso, a saga, o torpor.

Mas sendo amor, amor mesmo,

não amor de fantasia, amor de roupagem,

amor de cenário, de enganação.

Basta pegar suas pontas e amarrá-las,

feito nó de marinheiro, que ninguém desata,

ninguém desmancha, ninguém descama,

ninguém assopra longe.

Daí o amor se rediz, se refaz,

traz seu viço original, seu canto original,

sua rama original, sua raça original,

seu útero original.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 05/05/2021
Reeditado em 05/05/2021
Código do texto: T7248432
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