NÓ DE MARINHEIRO
Ah, o amor quando se faz calado,
esquecido das cores e sons,
como se fosse folha seca ao chão.
Ah, o amor quando se faz tardio,
feito saudade ressecada e triste,
como se fosse sangue encalhado nas veias.
Ah, o amor quando se faz rabugento,
tanto que dá dó, que dá pena,
feito flor despetalada qualquer.
Parece que não tem remédio, nem razão,
daí o coração se desmantela, se desfaz,
daí a alma se espanta, se engarrafa, se adoece,
daí a vida perde o riso, a saga, o torpor.
Mas sendo amor, amor mesmo,
não amor de fantasia, amor de roupagem,
amor de cenário, de enganação.
Basta pegar suas pontas e amarrá-las,
feito nó de marinheiro, que ninguém desata,
ninguém desmancha, ninguém descama,
ninguém assopra longe.
Daí o amor se rediz, se refaz,
traz seu viço original, seu canto original,
sua rama original, sua raça original,
seu útero original.