Ainda é assim

Senta-se no banco do ônibus

o homem que também é mulher

também é sangue, suor, poeira e lágrima

a máquina carrega corpos tristes

para lojas e fábricas

o sol ainda não nasceu

a paz ainda não nasceu

a justiça está morta

mas a máquina tem o estômago cheio

pobres comidos e cuspidos

todos os dias

o dia todo

O sol morre

e a mulher também homem

também cansaço e desilusão

está na máquina novamente

uma irmandade de oprimidos

as estrelas distantes

parecem indiferentes deuses

O sol diz olá e adeus

as mãos calejadas equilibram-se

nada muda

Manhattan permanece em pé

financeira, digital, globalizada,

tingindo de cinza as manhãs

sacrifícios humanos oferecendo

para a crueldade do deus- mercado.

Talvez uma revolução

tudo de cabeça para baixo

deslumbrante carnaval

tudo possa ser mais belo

fartura nas mesas

sorrisos nas almas

o dia a dia uma dança

para a lua

um mergulho nas cores mais lindas

Mas o que se vê

é o que o pesadelo não ousou ser

mais quente que o inferno

mais gelado que a morte

enterro do sol

reino da desesperança.

Erinilton Gomes
Enviado por Erinilton Gomes em 01/05/2021
Código do texto: T7245701
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