Ainda é assim
Senta-se no banco do ônibus
o homem que também é mulher
também é sangue, suor, poeira e lágrima
a máquina carrega corpos tristes
para lojas e fábricas
o sol ainda não nasceu
a paz ainda não nasceu
a justiça está morta
mas a máquina tem o estômago cheio
pobres comidos e cuspidos
todos os dias
o dia todo
O sol morre
e a mulher também homem
também cansaço e desilusão
está na máquina novamente
uma irmandade de oprimidos
as estrelas distantes
parecem indiferentes deuses
O sol diz olá e adeus
as mãos calejadas equilibram-se
nada muda
Manhattan permanece em pé
financeira, digital, globalizada,
tingindo de cinza as manhãs
sacrifícios humanos oferecendo
para a crueldade do deus- mercado.
Talvez uma revolução
tudo de cabeça para baixo
deslumbrante carnaval
tudo possa ser mais belo
fartura nas mesas
sorrisos nas almas
o dia a dia uma dança
para a lua
um mergulho nas cores mais lindas
Mas o que se vê
é o que o pesadelo não ousou ser
mais quente que o inferno
mais gelado que a morte
enterro do sol
reino da desesperança.