VENTOS PONTIAGUDOS
Intuição, trunfo poderoso,
de olfato apurado, mãos sensíveis, coração atento,
descobre ciladas antes de serem armadas,
flagra passos antes de deixarem pegadas.
É meu escudo, ninho, voz fiel,
dissipa as fuligens com maestria,
desmata enredos amargos e traíras,
traduz os ventos pontiagudos como rei.
Na intuição aposto todas minhas fichas,
todos meus anjos, todas minhas chaves,
caminho de olhos vendados em cacos de vidro,
transformo cada poro num guizo divino.
Não tem tempo ruim, nem perrengue,
seus tentáculos nunca cansam de sussurrar,
nem berrar quando preciso for,
ou dissipar quando preciso for.
Hoje a guardo num canto protegido, abençoado,
entendo seus descaminhos, seus engasgos, seus truques,
me curvo diante dos seus pés, das suas asas, do seu chão,
aplaudo seu alinhavar melhor do que ninguém.