FAÇA-ME VOLTAR PARA O VENTRE MATERNO
O sol nascente ilumina a face do recém nascido
Cria que saiu do ventre carente.
Agora respira aqui fora,
Doses de ar, doses de ira.
Doses de hora.
Começa a andar e logo quer crescer
Copiar ou desenvolver
E ver isso tudo acontecer;
Espera na fila, deve o banco.
Venera o santo,
Pega ônibus lotado
Entra no bairro errado.
Sente na pele a sujeira
Vê as crianças sem eira nem beira,
Fuma um cigarro
Excita o pigarro.
Pula da cama na matina
Encara o chefe mal humorado
Abaixa a cabeça e sai calado
Mija na latrina
Sempre a mesma sina.
Discute com a mulher,
Come a comida requentada
Xinga a vizinha desdentada
Come o fígado com a colher.
Mais um filho pra nascer
Vendo o leite encarecer
O dinheiro a desaparecer
Ainda tenho que viver?
Que inferno, por favor, meu senhor.
Faça-me voltar Para o ventre materno.