Quero ser
Eu me entrego
Eu me dou
Eu me faço agora
A alma.
Eu me entrego
Eu me dou
Eu me entrego
Eu me dou.
Eu quero saber o sagrado
Eu quero ter a palavra no momento certo
Eu quero o não tempo.
Quero ter você
Quero ter.
Não quero ver você partir
Eu sei o quão solitário é o sozinho do não saber o porque.
Eu quero ser o que há
E jaz
O que é.
Quero ver a relação
Entre você e o universo.
Quero ver você
Quero você.
Quero sentir você cantarolar
Em minha alma
Com a minha alma
Em algo além da alma.
Quero ter o verpetino
O matutino
E o diurno.
Quero ser você
Quero ter você
Quero ver.
Quero ter o sanatório
Quero ser o sanador
De tantas dores.
Quero o som de Deus
Quero os pássaros assoviando
Quero a esperança de pandora
O fogo de prometeu
As virtudes dos heróis.
Quero ter você
Quero ser você
Quero ser.
Não quero morrer
Quero saber
O que há de mais sagrado
Quero também conhecer
Também ver conhecer
Ter em ser.
Quero
Quero
Quero
Quero
Quero
Quero
Quero
Quero
Quero.
Não
Eu não irei morrer
Pois não é possível
Tirar algo do infinito
Nem as retas dos reais
Inteiros
Imaginários
Nada
Nada poderia exprimir o irredutível do 1
Do ponto
Da reta
Do plano
Do espaço.
Quero ver você
Quero sentir seu aroma
Dos bosques que também sou
Quero ser a perajia.
Não vou desaparecer
Quero ver o sabor do fel
Quero sentir as ondas pela língua
Quero burlar as glândulas pelo aferente.
Quero saber a dimensão do existir
Quero explodir os saberes
Quero compreender as dimensões entre o antes e o depois da pequena modificação
Nas integrais multivariáveis de linha de campo
Quero metamorfosear em um perpétuo caminho
Eterno aprender
E eterno saber
Quero conciliar as aparentes contradições
Quero ser a cola de Deus
Quero saber o porque de tudo o que há
Quero ser tudo o que há
O moribundo
O político
A prostituta
O mestre
O discípulo
Os vermes
As bactérias
Os vírus
As plantas
Quero ser todos os reinos
Vegetal
Animal
E mineral
Quero estar incluído nos pormenores de cada espécie
Quero ser a fêmea e o macho
Quero ser o cafajeste e o bom moço
Quero ser a moça requalcada
E a desbocada
Quero ser a sonsa
E quero ser a histérica
Quero ser o louco
E o mais psicopata dos criminosos
Quero ser o que rouba para os filhos
O que rouba por dinheiro
Quero construir um grande plano de assalto bem sucedido
Quero ser o preso
O que foge e o que morre lá
Quero ser o maior serial killer
E o mais pobre dos assassinos.
Quero ser a margarida
A orquídea
A flor de lótus
Quero ser todas as rosoideae.
Quero também ser um simples habitante de um reino
Filo
Classe
Ordem
Família
Gênero
E espécie.
Quero ser os multicelulares
Unicelulares
Eucariontes
E procariontes.
Quero também ser os autótrofos e heterótrofos
Quero também ser os aeróbios e anaeróbios.
Quero também ser a base
O ácido
Os sais
E os óxidos.
Quero ser os rios
E os mares.
Quero ser cada entre meio que existe e há de existir.
Quero ser os átomos
Os elétrons
Os prótons
Os nêutrons
Os quarks ups e downs
E todos os outros.
Quero também ser os glúons
O bóson w e z
E todos os outros.
Quero ser os gases nobres
Os metais alcalinos
Ferrosos
E todos os outros;
Quero ser todos os elementos da tabela periódica
E também um simples átomo de cada uma das famílias.
Quero ser a flauta que assopra na alma
Que tira da inércia e eleva a alma
Que lembra campos verdejantes e bosques floridos
Que ressoa harmonia
E que também retumba brandamente
Lembrando a exortação de um sábio.
Queria também ser os tambores
Que em rítmica convoca a alma a marchar
E que mais imediatamente nos atinge e não pede licença.
Queria também ser o violão
Que em diferentes cordas e afinação
Faz do braço
Coração
Das cordas
Veias
E dos dedos
Anjos
E todo o resto do corpo
Instrumento corpóreo para a materialização da mensagem.
Queria também ser o piano
Que faz do homem
Deus
E que faz dos dedos
Titans.
Queria ser tocado por grandes instrumentistas e péssimos musicistas
Queria ser dos instrumentos mais exóticos aos mais comuns
Queria ser tudo o que há e há de existir.
Queria ser a mais tenra calmaria
E a mais agitada reverberação.
Quero ser as aves de rapina
E todas as outras.
Quero ser o canídeo lúpus
O lúpus lúpus
E todas as espécies e subespécies variantes.
Queria ser cada presa e cada fera
Quero ser cada indivíduo particular e cada coletivo.
Queria ser o alimento que tu deleita como um amanhecer defronte a um rio sereno e pássaros cantando
Árvores verdejantes e uma canoa que em nada denigre a natureza
Ao mesmo tempo que queria ser o alimento mais horrendo que tu põe a boca
E queria ser cada variante neste espectro delimitado pelos extremos.
Queria também ser as rochas
As magmáticas
As ígneas
As sedimentares e metafórmicas
E cada um de seus processos.
Queria não ser apenas o produto pronto
Acabado
Queria ser também o processo
Está no processo
Ser também
Todos os estados de transição.
Queria ser tudo o que existe e há de existir
Queria deixar de existir
Queria ser um desprovido de conceituação
Quero apenas
Ser.
Criado: 25/04/21