OS FARÓIS DE ATLÂNTIDA

A brisa, cansada,

se deita no colo da folha do lírio,

ouve o riacho que passa

contando histórias de peixes,

e o sol, lânguido, se joga

sobre as escamas, e ri...

O homem, com sua enxada de feno,

cavouca à procura de estrelas meninas,

e o tempo, ourives de seus próprios relógios,

ouve o trem que passa levando bibelôs,

a música escapa do piano e sai a dançar

com as filhas das borboletas amarelas...

O riso da lua anuncia que vai chover,

o mar e suas marés, em belo cortejo,

atravessa alamedas com silvos de cigarras,

o barco do pescador, abarrotado de pérolas,

ouve alguém chamando, uma sereia sozinha,

e o poeta, estouvado, põe para secar

as palavras encharcadas por lágrimas

de virgens assustadas com as luzes

dos faróis de Atlântida.