A DANÇA DO PEYOTE
Sob o luar do deserto,
apreciando o firmamento,
deitados olhando o céu cintilando
de múltiplos pontos irradiantes
num esplendor de luzes celestes!
Mascando o cacto-vertigem
entramos num transe hipnótico,
de delírio, angústia e êxtase.
Penetramos pelo umbral da loucura,
do psicodélico mundo primal!
De repente, a imagem do colega,
se desfaz numa aura estranha,
sua imagem se distorce e se mescla
com a do pequeno coiote passante,
e os dois se misturam em pele e pêlos!
A imagem psicodélica e giratória,
do "lobisomem" surgido da viagem,
é inacreditável na sua transformação!
Um rosto de homem-animal em dentes caninos,
afiados na loucura de sua transmutação!
Arregalando os olhos diante de tamanha aberração,
levanto- me de um rompante!
E sacando a arma trazida no coldre,
imagino-me segurando apenas uma vara,
ralhando com a besta recém- transformada,
ameaçando perfurá-la com o meu bastão!
A besta- fera murmura ruído solto,
ininteligível pela recente ilusão,
e num salto em minha direção,
puxo o gatilho sem perceber, em riste,
num barulho fétido de pólvora em explosão!
O " lobisomem" deformado, agora ferido,
levanta-se de novo e ergue as patas
num som gutural e ininteligível,
dando novo passo titubeante em minha direção,
fazendo um novo espocar atravessar a audição!
O monte de pelos falante e disforme,
fica estirado em vermelho de morte!
E no fundo da minha ilusão em vertigem
me vem o horror dantesco, gritante,
da imagem esvanecida do amigo inerte!
Agora a imagem se despindo da ilusão,
mostra a realidade do que fiz em toda crueza!
Arrebatando meus sentidos do ato falho
cometido em inebriante devaneio onírico,
e causado pela diabólica erva do inferno!
Aterrado pelo ato terrível em mente,
dirijo o "bastão" à minha têmpora,
não suportando encarar as consequências
do ato impensado pela ilusão férrea,
do assassinato indelével da amizade!
Chorando em soluços pulsantes,
de arrependimento do ato falho,
tomo a desatinada e tola atitude,
de apertar o gatilho de "madeira”,
que ao pipocar do estouro explosivo,
eu me vej... - (e o pobre coiote fugiu noite adentro, assustado pelas terríveis explosões da famigerada...
...Dança do Peiote!)
Rogério S. Malta
13/03/2020 - sexta- feira.