Despedida
Era uma vez uma flor
Veio uma mão e a levou
Roubou um ser que era lindo
E trouxe-o a morte.
Era seu caule seu respirar
E intoxicada falece aos poucos
Com lágrimas por todo o corpo
A implorar por ar.
Nós somos todos assassinos
Oh flor do inverno tão compassiva
Alva ao luar, casas à deriva desço por ti.
Quero num copo caule este teu banhar
Este apaixonado e morno meu peito
Querer-te por noite a dentro
À deriva do tempo sangrar as mãos
Tão gélidas quanto este teu coração
Que pulsa cristalizando a dor
E envolvendo-a em finos lenços
Para amar-te oh meiga e alva flor!
Agora és mais que minha
Uma feição por trágica deu-me música
Aos ouvidos
Por querer-te baixo tom destoar
A salvação por minha própria
Egoísta pureza
Ao ver-te aos poucos murcho
Petrificar
Mas não me deixe, não! Eu clamo aqui
Estou arrependida, doce enlevar
Minha face tão pálida no inverno a lhe esperar
Os batimentos um por um,
Escarlate anseio.
Que pensas de mim? Que queres que lhe seja?
Roubo-te furtando teus lábios de pétalas
A tocar, desfalecendo por dentre
Meus densos cabelos
Flor erguida, deixe que enfeite
Por mais uma noite, apenas mais uma!
Lhe imploro, resista, não vá-se assim tão cedo
A aurora será teu julgamento
Seguirás direto ao céu
E eu descerei ao passo que subas
Por tirar-te a vida
Eu sei que pois matando-te
Não suportarei o setembro adentrar
Com aquelas tantas infindas cores,
Tipos, vizinhas
Irmãs tuas, amigas e primas
Eu, existência mísera que amou-te
E por assim furtou-lhe
Em beleza e agonia da morte deste-me vida
Ao partir sofrendo, sofrendo
Por feição tão belo padecer que nada diz
Apenas encolhe e sobe ao som
Das quatro estações
De Deus e Vivaldi.