ELLA
Ofegante ela estava naquele quarto sombrio
Caída ao chão, num canto escuro, a soluçar
Com seu vestido rasgado, seminua
Olhos arregalados, mãos trêmulas
Na tentava de levantar-se
Apoiava-se na beira da cama
Percebera no criado mudo, notas de reais
Que seu amante (ou algoz?) deixara
Como pagamento pelo serviço
Ela exausta, temerosa, humilhada
Punha-se a refletir acerca de sua trajetória
Relembrando belos momentos outrora, vividos
Sua beleza, sua simpatia
Atraía homens e mulheres para o seu convívio social
Mas, mas, justamente naquele fatídico dia
Surgira ele, dizendo estar perdidamente apaixonado
Prometera luxo, prazer, amor eterno
Em sua ingenuidade aceitara o pedido de casamento
Enfrentara a oposição de seus familiares e amigos próximos
Sua cegueira não permitira refletir um futuro próximo
E, numa reluzente limusine branca
Fora ao encontro de seu príncipe encantado
Para nunca mais, aquelas paragens voltar
Hoje naquele bordel, seu único lar
Sente saudades de tempos idos
Jamais imaginara tornar o seu corpo, mera mercadoria
Com tanto zelo ela o preservara
Para sua primeira noite com o seu grande amor
Ah! Aquela maldita mansão
Porque não percebera ser uma cilada?
Numa orgia de Eros fora colocada
Vilipendiada, desflorada, humilhada
O príncipe encantado, desencantara, se fizera algoz
Sua vida mudara radicalmente naquela mansão
As festas se fizeram presentes no entardecer dos dias seguintes
Ella, cada vez mais prisioneira de sua consciência
O tempo passara rapidamente
As orgias cessaram, as portas da mansão se fecharam
De sua antiga morada, sobrara amargas lembranças
Pois, pelo seu “amor” primeiro, fora abandonada
Ella naquele quarto sombrio
Trajando um conjunto de lingerie vermelho escarlate
Fumando cigarro, copo de whisky na mão
Perdida em seus pensamentos
Fica a esperar mais um cliente chegar
Pagando por seus serviços sexuais
Rogando a Deus pelo seu perdão
Tal qual Maria Madalena
Que por Jesus fora perdoada
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 19/04/21