O que sinto que sou
Sou os frutos podres
Que das árvores caem ao chão
Sou o grão de areia que traz dor à concha
Vira pérola, mas é maldição
Sou as gazelas e os cervos calmos, a beber água nos rios
As formigas e abelhas que trabalham sem dormir
As preces dos reverendos e freiras
Desesperados e contritos.
Sou o poema dos poetas esquecidos
As danças pagãs ao sol e luar
Os lustres das casas que brilham
As luzes nas cidades onde ninguém irá morar
Sou parte do tudo e do mundo
As pétalas relegadas das flores
Os morangos silvestres nos campos
Sou os pássaros famintos que os irão provar
Faço parte da irmandade
Seja como for a realidade?
Bem sentir, padecer
Deleitar, sofrer
Existir, ao possível
Ser humana não é o prescindivel.
Aos poucos sobrevivo
Pois sou as contas e cálculos
Que os gênios não conseguem resolver
Mistério
Negação
As estrelas longínquas e lindas
A brevidade da vida
O que fica é minha imaginação
Que permite-me ser
Tudo, nada, o bem, o mal
Pequenina, débil, grandiosa.
Vistamo-nos de linho
Tire seus sapatos
O lugar onde estamos
É agora sagrado e necessário
O sentir,
e pensar.