O que sinto que sou

Sou os frutos podres

Que das árvores caem ao chão

Sou o grão de areia que traz dor à concha

Vira pérola, mas é maldição

Sou as gazelas e os cervos calmos, a beber água nos rios

As formigas e abelhas que trabalham sem dormir

As preces dos reverendos e freiras

Desesperados e contritos.

Sou o poema dos poetas esquecidos

As danças pagãs ao sol e luar

Os lustres das casas que brilham

As luzes nas cidades onde ninguém irá morar

Sou parte do tudo e do mundo

As pétalas relegadas das flores

Os morangos silvestres nos campos

Sou os pássaros famintos que os irão provar

Faço parte da irmandade

Seja como for a realidade?

Bem sentir, padecer

Deleitar, sofrer

Existir, ao possível

Ser humana não é o prescindivel.

Aos poucos sobrevivo

Pois sou as contas e cálculos

Que os gênios não conseguem resolver

Mistério

Negação

As estrelas longínquas e lindas

A brevidade da vida

O que fica é minha imaginação

Que permite-me ser

Tudo, nada, o bem, o mal

Pequenina, débil, grandiosa.

Vistamo-nos de linho

Tire seus sapatos

O lugar onde estamos

É agora sagrado e necessário

O sentir,

e pensar.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 19/04/2021
Código do texto: T7236338
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