DOCE POETISA

Espiei pela fresta, e o que vi?

Tu, sentada, absorta, a escrever

sob o som do inefável colibri,

a dizer tudo, às vezes nada a dizer...

Será que muda o mundo, o poeta,

ao escrever o que lhe vai n' alma,

tendo o homem como alvo, seta,

às vezes em fúria ou doce calma?

O tempo impera à cada atitude,

arrasta o poeta os ponteiros de aço;

estende o verso em outra latitude

como fosse a extensão do seu braço...

A folhagem nasce e o sol acaricia,

baleias gritam por seus filhos amados;

tu, sentada, em estado de poesia,

aras, zelosa, com teu inspirado arado...

Mesmo que não alteres, na oficina,

a dança das moléculas, que tudo criam,

tu, sentada, absorta, cara de menina,

és aquela que junta as moléculas da poesia..