O VELHO POETA

Quem dera escrever como um poeta antigo,

que fazia a semente virar trigo,

o canto do uirapuru virar hino,

encanecido, ainda ser menino...

Vendo-a passar, a chamava de moça,

convidado a almoçar, lavava a louça,

traduzia sentimento em bela flor,

com quatro letras escrevia amor...

Com que facilidade se punha a serviço

no jardim da poesia, amoroso, solícito,

se necessário criava palavras belas,

as lançava, origamis-aves, pela janela...

Se punha a estudar línguas, a decifrar

que somos marinheiros do mesmo mar;

mesmo que, horizontalmente, pela serra,

ensinará a ler, os minérios, filhos da terra...

Um dia, em que a noite dormirá mais tarde,

em coro e reza, no céu, cada estrela que arde

brilhará pelo velho poeta, amado, que nos deu

seus versos, que pousam nos ouvidos de Deus.