SABIAMENTE FELIZ
Ainda tenho minhas coisas,
abençoadas e amaldiçoadas
com ladainhas fartas e rasgadas,
com versos aguçados e febris.
São tecos ensandecidos, puídos,
esgarçados no seu estopim maior,
surrados nas fraldas e perrengues,
absolvidos do juízo final.
Tecos que untei do melhor de mim,
das minhas doídas alegrias, querelas aguçadas,
do que carrego de mais solene, de mais meu.
São pedaços desse ver, caminhar e intuir,
valsas tresloucadas que aticei agudamente,
que atirei às feras sem pestanejar,
que degustei bebadamente sem parar.
Daí num repente qualquer, parei o rio,
dei um basta à essa orgia funesta,
brequei as falanges descabeladas que tanto fungavam,
revirei do avesso seus penduricalhos sem medo,
sem torpor qualquer.
Então meus fantasmas se rebelaram,
se esgoelaram de gritar inflamados perdões,
se refastelaram de bailar ao som da guerra,
se desengatilharam de ungir ao pé do altar.
Mas como todo motim, pálido e arteiro,
se enfurnou nas jardineiras rimadas do amém,
se deflagrou ausente quando todos reverenciavam o vazio,
se concebeu feito quando o luar era ainda imberbe.
Daí voltei ao sono que chutei longe,
tão cansado de catar palavras ao léo,
tão calejado de ser o que sou, seja isso o que for,
agora com toda missão cumprida, regada, aprumada, bendita,
sabiamente feliz.