Necrofagia
O cadáver ‘stá na mesa
E a família reunida
Vai tomar o desjejum.
O ser humano é tão frio,
Que alimentar-se da morte
Tornou-se coisa comum.
Como as aves de rapina,
Comem carnes a valer
Da vítima ali caída.
É do apetite necrófago
Aspirar cheiro de morte,
Da morte nutrir-se a vida.
Matar, para saciar-se,
Um animalzinho de Deus,
Uma criatura inocente!
Tu és frágil e sente dores!
Ele também, pobrezinho,
Como tu, as dores sente!
Comprar no mercado a vítima
Da brutalidade humana,
Do apetite animalesco...
Para se eximir da culpa,
Dizes: não fui seu carrasco!
Que pretexto mais grotesco!
Criou Deus o ser humano
Refletindo Sua imagem,
Para um nobre ideal.
E prescreveu sua dieta
No pomar do paraíso
De frutos e vegetal.
Mas o homem alienado
Vivia muito, sem Deus,
A vida era uma eternidade.
Logo depois do dilúvio
Deus permitiu comer carne,
Tirando a longevidade.
Mas o povo do Senhor
Que hoje está se preparando
Para com Deus ir morar,
Deve voltar ao princípio,
Pois lá não se ceifa a vida
Para a vida alimentar.