Baleia, a morte lhe era evidente (adaptação do conto Baleia de Graciliano Ramos)

Baleia, a morte lhe era evidente

Sua situação era decadente

Do seu sangue surgiam moscas

As feridas em sua boca

Dificultavam-lhe a alimentação

Baleia, a morte lhe era evidente

Baleia, suspeitavam de hidrofobia

A amarraram por precaução

Baleia era danada

Fabiano resolveu matá-la

Com um tiro, uma morte rápida

Os meninos já desconfiavam

Evidente destino, coitada

Sinhá Vitória os segurava

Seu coração apertava

No fundo não apoiava

A decisão do marido

Fabiano errou o tiro

Baleia gritava, os meninos choravam

Uma morte dolorosa a esperava

Tentou fugir para escapar

Ficava cada vez mais fraca

Fabiano e um objeto a ameaçavam

Não poderia fazer nada, coitada

O que as cabras faziam acordadas?

O galo velho não cantava

Fabiano não roncava

Baleia respirava depressa

Baleia, a morte lhe era evidente

Encostou a cabeça na pedra fria

Com a certeza de que acordaria

Em um melhor lugar

Um mundo cheio de preás

Baleia, a morte lhe era evidente