AGULHA
Corto e costuro
Alinhavo a vida
Uso a agulha do tempo virtual
Minto para as linhas das mãos
Traço a sina do destino nas entrelinhas
Administro a física do universo e a química das idéias
Afundo o casal de noivos no bolo ilusório
Arrasto o véu na obra de arte do sonho
Corto e costuro a língua fria da rasga-mortalha
Entro no útero
Puxo o fio infindável da vida
Jogo a placenta no balde dos retalhos
Canto para embalar a humanidade
Abandonada entre as esferas implacáveis do carrossel divino
Observo anjos nus e santos translúcidos
Sopro as nuvens junto com as evidências
Nem tudo me é permitido