SESSÃO SOLENE
Encosto a cabeça no travesseiro,
deixo de existir enquanto massa corpórea;
dizem que espírito não sente cheiro,
que a morte é irmã do sono, inverdade notória...
Vou para lugares que nunca nem pensei,
encontro pessoas num outro estado de ação;
metáforas do inconsciente, acordarei
por abrupto canto de um galo da região...
Moro em algum lugar que em mim existe,
não me lembro bebê, nem o choro primeiro;
nem mil sessões tocam no que insiste
se ocultar, labirinto falso e verdadeiro...
Aqui fora, onde o que está dentro espia,
pelas portas dos sentidos saem fantasmas;
ser criado sem o auto-domínio, à revelia,
é como ser um ser, oco, tosco, sem alma...
Devore teu oráculo, apague teu avatar,
és parte de um jogo onde a perda é ganho;
acerte as contas sob a velha luz do luar
antes que te sintas, em síntese, estranho...