NECESSÁRIA POESIA

Quantos preferem o ouro em seus poemas,

jóias, adornos, reis e rainhas, castelos,

a medida da palavra em bico de pena,

o fulgor magnífico de seus versos...

Tão ricos, esculturas em mármore raro,

preciosos, guardados em viris cofres,

somente um rei poderia pôr em claro

poemas de ombros largos e nobres...

Quantos preferem a simplicidade,

recolhem gravetos, restos de árvores,

tecem no vento o fogo que, tarde,

no ventre de seus cérebros, arde...

Espalham poemas como vagalumes,

misturam água e faíscas, risos e lágrimas,

do homem, sentimentos, até o ciúme,

pouso de palavras sobre páginas...

Sobre os ombros do tempo o acúmulo

de pegadas de quem esteve aqui, um dia,

verbos jamais conhecerão um túmulo,

como não haverá uma servil e vã poesia...