Poesia:96 - Porque não faço poemas de amor
jamais faço poemas de amor,
não porque sou um descrente.
meu coração nunca foi ateu.
talvez alguma forma de timidez.
um certo pudor ao sentimento.
na verdade, quando se trata de amor:
sou antigo, um romântico clássico.
sentimental eu sou, diz aquela música.
qualquer romance bobo de cinema
me faz arder meus olhos: brotam lágrimas.
disfarço com os dedos das mãos: coço os olhos.
não deixo verter as lágrimas: vergonha.
se ouço Bee Gees e Marisa Monte: soluço de emoções.
sou quase do tipo que manda flores: mando.
quando apaixonado: canto no chuveiro,
danço sozinho no quarto e dou bom dia as formigas.
no amor nunca fui moderno: parei no tempo.
faço poemas do corpo: dele não tenho pudor.
mas quando se trata de amor: silencio as palavras.
não porque tenho medo do amor: é proteção.
o amor acontece no corpo, eu sei, mas é de outro jeito.
é sentimento que provoca desrazão: não mandamos nele.
não pede licença e nem por favor: simplesmente invade.
não fiz poemas de amor, não por ser ateu ao sentimento.
mas quando se trata de amor: não consigo ser publicitário.