DIÁLOGO INTERNO


Quando estou à beira do abismo, sinto borboletas em minha barriga.
— Eu devo pular, ou não?
Está escuro demais aqui, mas bem lá no fundo há uma fagulha de luz que brilha, chamando-me ao encontro dela.
— Com quem poderei contar quando estiver em queda?
— Quais olhos segurarão o meu pavor diante do abismo?
— E se estiver frio no caminho, ou se for quente demais a brisa sobre a relva?
São tantas questões revoltadas aqui dentro, que elas chegam a brigarem entre si, disputando o melhor espaço de mim.
Meu peito cheio de coragem, grita:
— Eu vou pular!
E então, meu corpo declina sobre o sussurrar inquieto do vento, que passa acelerado sobre meus ouvidos.
— Que queda maravilhosa! Exclamo aturdido.
Tudo é tão leve que chega a assustar-me.
Eu nunca vi algo assim, nem sequer vivenciei em pensamentos.
Logo na decida o medo vem bater em minha porta, mas estou ocupado demais apreciando a paisagem, sentindo o meu deslizar pelas correntes da neblina, as quais me abraçam.
Eu não enxergo nada, alguns instantes tudo fica desfocado e, quando acordo, estou em uma terra completamente nova, onde tudo parece estar ligado a mim.
E aquela fagulha de luz, lá no fundo, que outrora era tão pequenina quanto um reluzente vagalume, agora parece fazer parte do meu ser, sou irradiando por uma alegria descomunal.
Confesso que fui ousado em desafiar a lei da gravidade, mas cair em mim, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.
Hoje o amor-próprio domina o meu peito e decora minha alma.
Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 14/04/2021
Reeditado em 14/04/2021
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