Atos da Engrenagem

Quero que a mágica aconteça,

Quero me transportar,

Outro lugar,

Outro planeta,

Quero o impossível desvendar.

Aqui é sufocante,

Mar de desilusões,

Cansei de nadar,

Não quero boiar.

Mas tenho medo,

De afogar,

Do ar puxar,

De não conseguir respirar.

Sigo por entre a selva de medos.

Em lampejos de coragem,

Desmato,

Crio fogueiras,

Provoco incêndios.

Mas a mente organiza brigada,

Envia legião de bombeiros,

Contém o fogo.

O que queima são os desejos.

Eles ardem,

Inflamam em meu peito,

Sigo como em devaneio,

Sem bússola.

Vezes contra,

Outras a favor de ventos.

Estes, desvendam meus segredos,

Dominam minha covardia,

Contam ao tempo,

Senhor e escritor de todo enredo.

Deserto urbano cheio de gentes vazias,

Máquinas de produção,

Consomem,

Sem repor energia.

Acumulam substratos,

Lutam pelo abstrato,

Correntes,

Preso a contratos,

E o que importa são os extratos.

Só atos,

Não se importam com os fatos,

Tem repulsa a contatos,

Criação de problemáticos,

Consumidores medicamentais,

Compram por atacado.

Sou peça dessa engrenagem,

Um exemplo do desgaste.

Onde a porca é covardia,

Parafuso, o medo cria.

Aperto da tirania,

Giro em voltas vazias,

Ilusão em ser máquina,

Que morre dia após dia,

Mais aperto,

Menos gira,

Até a hora do total desgaste,

E por outra ser substituída.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 13/04/2021
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