Atos da Engrenagem
Quero que a mágica aconteça,
Quero me transportar,
Outro lugar,
Outro planeta,
Quero o impossível desvendar.
Aqui é sufocante,
Mar de desilusões,
Cansei de nadar,
Não quero boiar.
Mas tenho medo,
De afogar,
Do ar puxar,
De não conseguir respirar.
Sigo por entre a selva de medos.
Em lampejos de coragem,
Desmato,
Crio fogueiras,
Provoco incêndios.
Mas a mente organiza brigada,
Envia legião de bombeiros,
Contém o fogo.
O que queima são os desejos.
Eles ardem,
Inflamam em meu peito,
Sigo como em devaneio,
Sem bússola.
Vezes contra,
Outras a favor de ventos.
Estes, desvendam meus segredos,
Dominam minha covardia,
Contam ao tempo,
Senhor e escritor de todo enredo.
Deserto urbano cheio de gentes vazias,
Máquinas de produção,
Consomem,
Sem repor energia.
Acumulam substratos,
Lutam pelo abstrato,
Correntes,
Preso a contratos,
E o que importa são os extratos.
Só atos,
Não se importam com os fatos,
Tem repulsa a contatos,
Criação de problemáticos,
Consumidores medicamentais,
Compram por atacado.
Sou peça dessa engrenagem,
Um exemplo do desgaste.
Onde a porca é covardia,
Parafuso, o medo cria.
Aperto da tirania,
Giro em voltas vazias,
Ilusão em ser máquina,
Que morre dia após dia,
Mais aperto,
Menos gira,
Até a hora do total desgaste,
E por outra ser substituída.