Infecundo
Em algum lugar dessa estrada eu me perdi de mim...
O que eu vejo; é o reflexo de uma face sem rosto, uma alma sem identidade...
Talvez, um fantasma que ainda vaga num corpo vivo, mas que jazido de vida e de esperança; apodrece.
Ontem eu era poeta, feroz e sedenta para banhar-me nas águas fecundas da Lira.
Hoje eu sou apenas um rascunho embolado, rabisco rasurado, versos mastigados pela ausência de inspiração.
Sozinha e esquecida...
O vento beija a minha face pálida, os sonhos descoloriu o semblante da mulher,
Os pesadelos abraçaram a criatura que urgiu dentro, que rasgou a minha carne e apoderou-se do que eu um dia fui. Fera ou ferida.
Deixa que eu sangre até o nascer do sol, depois enterre o meu coração em pedaços, longe da minha casa. Léguas de onde os meus olhos alcançam.
Escreva-me um último Soneto e não chore pela minha inexistência poética.
Uma poesia vive sem o poeta, mas um poeta jamais pode viver sem a poesia.
Deixe-me partir, enquanto me decifra na melodia de cada linha que ainda os meus dedos não sangraram.