Infecundo

Em algum lugar dessa estrada eu me perdi de mim...

O que eu vejo; é o reflexo de uma face sem rosto, uma alma sem identidade...

Talvez, um fantasma que ainda vaga num corpo vivo, mas que jazido de vida e de esperança; apodrece.

Ontem eu era poeta, feroz e sedenta para banhar-me nas águas fecundas da Lira.

Hoje eu sou apenas um rascunho embolado, rabisco rasurado, versos mastigados pela ausência de inspiração.

Sozinha e esquecida...

O vento beija a minha face pálida, os sonhos descoloriu o semblante da mulher,

Os pesadelos abraçaram a criatura que urgiu dentro, que rasgou a minha carne e apoderou-se do que eu um dia fui. Fera ou ferida.

Deixa que eu sangre até o nascer do sol, depois enterre o meu coração em pedaços, longe da minha casa. Léguas de onde os meus olhos alcançam.

Escreva-me um último Soneto e não chore pela minha inexistência poética.

Uma poesia vive sem o poeta, mas um poeta jamais pode viver sem a poesia.

Deixe-me partir, enquanto me decifra na melodia de cada linha que ainda os meus dedos não sangraram.

Cristina Milanni
Enviado por Cristina Milanni em 12/04/2021
Reeditado em 12/04/2021
Código do texto: T7230531
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