DESABAFO

DESABAFO

Sinto-me ave sem arribação

Olho-me no espelho

Vejo-me sem asas

Prostrado em terra rasa

Há um vácuo sem tampão

Não há sonho há alucinação

Que merda que faço por aqui

Dentro de si fora de si

Acorrentado sem correntes

Exilado desalado desolado

Neste ínfimo casulo

Prisão excêntrica

Sem poesia que fulgure

Augúrios não os há

Um outono sem chão

Sem vento sem ares na cabeça

Sentimentos sombrios misturados

Num rosário sem preces

Dias qual finados

Pálidos isentos de sol

Dedos crispados sobre as teclas

Duras palavras disformes

Insolentes

Quem sabe comoventes

A olhos que não mais choram

Apenas lamentam o nada

Em sulcos rasteiros

Sonhando o passado

Tentando afastar sombras

Ansiando por doçura

E não por pedra dura

Que escondem larvas famintas

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 12/04/2021
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