DESABAFO
DESABAFO
Sinto-me ave sem arribação
Olho-me no espelho
Vejo-me sem asas
Prostrado em terra rasa
Há um vácuo sem tampão
Não há sonho há alucinação
Que merda que faço por aqui
Dentro de si fora de si
Acorrentado sem correntes
Exilado desalado desolado
Neste ínfimo casulo
Prisão excêntrica
Sem poesia que fulgure
Augúrios não os há
Um outono sem chão
Sem vento sem ares na cabeça
Sentimentos sombrios misturados
Num rosário sem preces
Dias qual finados
Pálidos isentos de sol
Dedos crispados sobre as teclas
Duras palavras disformes
Insolentes
Quem sabe comoventes
A olhos que não mais choram
Apenas lamentam o nada
Em sulcos rasteiros
Sonhando o passado
Tentando afastar sombras
Ansiando por doçura
E não por pedra dura
Que escondem larvas famintas