OS MEUS FANTASMAS

Estava escrito na tábula rasa do tempo:

[ Tens que penar

pra ganhar o sustento do corpo e da alma

e viver a vida em plenitude ]

Penar eu já penei.

Onde está a prometida plenitude?

Apenas um lampejo de felicidade assomou

Por entre a bruma cinzenta do meu ocáso

Como uma réstea de sol no solstício de verão

Quando o sol brilha mais tempo no céu

Mas para mim...

Fenómeno raro que mal despontou, sumiu

E apenas aqueceu a minha mão

E me vi neste presente doído e contrito

Por entre gritos e vagidos

Vagidos duma alma renascida.

Foram-se os fantasmas

Dum passado que já não existe

Eram ilusões mascaradas

Mofo, bolor, teias de aranha

Embotavam a visibilidade

Como pude ser tão tacanha

Por isso eu distorci e confundi a realidade

E eis-me aqui, cruzando as pernas

No limbo entre a mentira e a verdade.

Tento manter o equilíbrio

Entre o corpo e o espírito

Entre o céu e a terra

Entre a paz e a guerra

Os olhos desorbitam-se e agigantam-se

Vislumbrando pra lá do horizonte

E com os olhos de sangue marejados

Clamo por ti

E o grito prenho com o teu nome

Ecoa de monte em monte

Mas para quê?

Já não és o mesmo

Do tempo em que eu te amei

Já não sou a mesma

Do tempo em que te perdi

Qualidades que ganhei

Outras que ressarci

Defeitos que eliminei

Outros que adquiri

Agora já não preciso provar nada

Todos os processos foram arquivados

Por bom comportamento em todos os costados.

Basta-me ser apenas eu

Rosto lavado

Coração pela paixão torneado

Paixão de viver a vida que em mim não falece

Á mingua de amores mal engendrados

Em recantos por esquadrinhar

Virgens e inexplorados

Elevados a Deus numa prece

Onde me dou por inteiro

Porque Deus não me trai

Ele é meu amigo verdadeiro!

Direitos de Autor

Maria Dulce Leitao Reis

11/04/14

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 12/04/2021
Código do texto: T7229800
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