GaZeTa NoTuRNa
Nos desejos mais profundos
Que habitam as minhas noites
Tênues sonhos moribundos
Vão-se em horas a te esperar
Cada noite sem ti é contigo
Horas sem ti é dor suprema
Vela-me o sentimento antigo
Falso afago por noite amena
As melhores horas da vida
São aquelas em que penso em ti
Teus cabelos escondendo o sóbrio olhar
Despido de pudores
Enquanto ris
Sussurrando em meu corpo
Antevejo o doce som da tua voz
Que me guia por tua história
Encanto e prantos de donzela
Bela adormecida concebida
Em lágrimas de cebola cortada
Amor imperioso
Verte de teu rasgo impetuoso
Quisera em real momento
Arrepiar em reais afagos
Arder em ideais lábios
Extasiar em leais abraços
Apertados
Corpos apertados
Que se adentram
E respirar teu gemido
Até cessar
e tu dizer brandamente
ao meu ouvido:
- você está sonhando...
Quando o lampejo da luz divina
Do anjo amargurado por ter falhado
Vier me socorrer em vida da morte
O eco dessa luz desfará todas as noites
Amor: encanto desconhecido
Amor: coração cortado
Amor: rasgo impetuoso
Não vago à toa por entre bares
de cidades esculpidas em florestas
Sou o sino, o som, a sina, a mina
A ranhura que segura a tinta
Na parede, na tela e sela
Como arte
Não vago à toa por entre mares
e portos plantados em hortos
Sou o neon, o tom, o carma, a calma
Neurônios craquelados
Na pele, na flor, na alma
Como arte
O tempo impuro e promíscuo
Desse sonho que me toma as noites
Estampa o bem estar, a paz
Que procuro intensamente
E se esquiva da maçã mordida,
Oxidada pelas gerações,
Para que:
paradoxalmente
Eu viva intensamente na certeza da morte tal
e morra suavemente na dúvida da vida eterna
antes de adormecer