Abro a porta, eis as flores
Abro a porta, eis as flores
no jardim de minha casa.
Como não morrer de amores
com as cores
dessa brasa?
Olho acima, eis as aves
sobre as copas a cantar
com seus timbres tão suaves,
nunca graves,
a se amar.
Bem à frente desta casa
vejo as aves, vejo as flores;
uma cena que extravasa
como a brasa
suas cores.
Olho à frente, eis que o horizonte
me sorriu quando acenei;
elevou-se a mim um monte,
e, defronte,
fui seu rei.
"Ó meu rei, que diz a mim,
sendo rei de tudo isto?
Rei do céu, do mar, enfim,
rei do fim
e rei do início."
Eis as aves, eis as flores,
o horizonte que a mim fala,
eu sou rei, mas eis as dores,
seus rancores,
sua vala.
Fecho a porta, vejo as flores
gargalhando do meu jeito.
Vejo as aves sem amores,
sem pudores,
no meu peito.
Vou à cama me esconder,
mas seu pio é persistente.
Fecho os olhos, posso ver,
posso crer,
estou doente.
Abro a porta, eis as flores,
eis a brasa, eis o suplício,
Eis os montes de tambores,
seus furores,
o meu vício.
06/04/2021