Lírios do campo
a poesia nasce das pedras,
nasce do caos, nasce das trevas
da languidez das águas dos rios
do filho sem mãe, com frio
do fio cruel que a morte trama
nasce da luz, nasce da chama
nasce do aroma da vida
da pureza da margarida
das mãos que tateiam a lua
dos gatos em cio nas ruas
dos guetos que vomitam a lama
do coração frenético que ama
das crianças que brigam, brincam com a fome
dos poetas bastardos, inglórios, sem nome
das borboletas efêmeras que bailam a valsa
das prostitutas frígidas que gozam a salsa
da falsa felicidade que ofende
das fadas, feiticeiras, duendes
da nódoa que mancha a alma
do nódulo que mata a calma
a poesia nasce do encanto,
do descaso do ocaso do acaso
a poesia nasce
assim como nasce o lírio do campo.
Benvinda Palma