UM PRÉDIO COMO CONFIDENTE
No alto de um prédio estávamos, a sós como de costume, liberto de outros seres com suas completudes derramadas...
Um prédio como confidente. Em volta tudo que não víamos lá de baixo, a insensatez de ser sensível, a malemolência do mesmo, a confiança de Deus.
Me olhaste como só quem olha para quem amas. Desdenhasse toda desgraça como nas pinturas de Vincent Van Gogh. Era tudo muito distante, miúdo, mesmo assim não me sentia mais próximo do céu, de Deus.
O confidencial tão claro... raríssimo caso de acontecer tudo aquilo em um prédio, fora de salas, de escadas, poderia até haver incêndio. Combinado ou não estávamos unidos, e a companhia um do outro de longe tornou-se possível.
A forma como ela passava a mão no cabelo me dizia, como coisa que não saía da boca. Como coisa que eu fizesse, da culpa de não ter feito muito. Amava e logo bastava.
Não achem biográfico o amor, nem isso é tido como saudável de poesias. Apenas pensei que ali continuando, continuava à sentir o que lá sentia. Ledo engano, percebe-se que na maioria dos sentimentos tem que ser tudo aproveitado - pois é logo que acaba, ou é nítido que se sente de outra maneira.