São Jorge
Jorge morreu e ninguém sabe dizer de que foi
De ópio, muito sódio, um lapso um nó intestinal.
Se mordeu um gargalho de garrafa
Se morreu de rir.
Um vírus ao vivo no meio da live
Uma seringa heroína.
Um estilete na bainha e o macete é esse, meu bem:
Barganhar essa imensa tragédia da lama que escorre o teu mamilo
Por uma endorfina no fundo do peito.
Se morreu de viver.
Ninguém sabe dizer se era sério,
Se se olhava no espelho,
Se era estéril e a mulher engendrava outro filho.
Se a solidão, companheira, soldava seus dias um no outro
Desinventando o relógio. Se morreu de sem tempo.
Quem já viu? Morrer assim do nada,
Sem dizer de que foi.
Morrer sem saber de quem foi. O que foi na vida.
Só perguntar perguntar perguntar incansavelmente até se cansar.
Morrer de dúvida,
Que é melhor que morrer de dívida.
O agiota realmente não perdoa nada.
Sem ninguém saber se morreu sem perdão.
Sem ninguém saber se um dia um dragão saiu da caverna
E lá foi Jorge no seu cavalo enfrentar o dragão.
E se ele sendo seu próprio dragão e caverna morreu de saber-se?
Ter tanto motivo e morrer de Jorge.