ESCAPULINDO DAS MINHAS FULIGENS

Tem vezes em que acordo no meio da noite

encharcado de ideias e medos

atolado num lamaçal de inquietações.

Fico assim por surrados minutos

atônito naquela ampulheta acesa

retalhado sem saber por onde ir,

ou o que sou, ou o que serei.

Nesse êxtase ingrato e faminto

escorro das minhas fuligens

desafogo dos meus castiçais bambos

resfolego daqueles cheiros encardidos.

Então como raio busco meus anjos

vou atrás das querelas que a vida ungiu

num desespero agudo cadê minhas raízes

todas aquelas que o tempo tão enterrou.

Daí percebo o quanto solitário sou

daí entendo que só tenho meus passos a untar

daí reconheço que só restou eu de mim e nada além.

Isso faz convulsionar como peste

faz sacudir feito vômito roubado

faz cabisbaixar feito saudade seca e doída.

Mas logo arranco de mim a alforria

logo caço de mim a mão divina que tanto negava

logo trago de mim a hidratação bendita e salvadora.

Então avisto o colo do sono que se dizia deportado

aos sonhos caramelados retorno por fim

chutando longe os pesadelos que tentavam subornar a minha paz

que teimavam reinar desanuviados e puídos pra sempre.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/04/2021
Reeditado em 03/04/2021
Código do texto: T7222646
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