ESCAPULINDO DAS MINHAS FULIGENS
Tem vezes em que acordo no meio da noite
encharcado de ideias e medos
atolado num lamaçal de inquietações.
Fico assim por surrados minutos
atônito naquela ampulheta acesa
retalhado sem saber por onde ir,
ou o que sou, ou o que serei.
Nesse êxtase ingrato e faminto
escorro das minhas fuligens
desafogo dos meus castiçais bambos
resfolego daqueles cheiros encardidos.
Então como raio busco meus anjos
vou atrás das querelas que a vida ungiu
num desespero agudo cadê minhas raízes
todas aquelas que o tempo tão enterrou.
Daí percebo o quanto solitário sou
daí entendo que só tenho meus passos a untar
daí reconheço que só restou eu de mim e nada além.
Isso faz convulsionar como peste
faz sacudir feito vômito roubado
faz cabisbaixar feito saudade seca e doída.
Mas logo arranco de mim a alforria
logo caço de mim a mão divina que tanto negava
logo trago de mim a hidratação bendita e salvadora.
Então avisto o colo do sono que se dizia deportado
aos sonhos caramelados retorno por fim
chutando longe os pesadelos que tentavam subornar a minha paz
que teimavam reinar desanuviados e puídos pra sempre.