O homem estava nu
O homem estava nu
Mas nem sabia disso
Achava que vestia
Um terno de ouro negro
Uma túnica de falésias
Um marfim uma gravata
Um chapéu de alta moda
Pequenos enfeites na lapela
Dizia que ia ao cais
Esperar um navio
Que chegava trazendo
Uma encomenda de um rei
Lhe pedindo para ser
Seu conselheiro secreto
No cais
Não tinha navio
Não tinha notícia
Não tinha mensageiro
Com notícias do rei
Nem cais havia
Então no meio da tarde
Mais ou menos por volta
Das quatro horas
O homem sobressaltou
Ao ver suas vestes de acrílico
Tomarem rumos milimétricos
Espatifados na tarde
Então o home gemeu
Num segundo
Se encolheu
Todos o olhavam
E ele nu
Só e nu
Quis se atirar no mar
O guarda não deixou
Quis correr
Na frente dos carros
A multidão impediu
E foi então que ele descobriu
Que não tinha como ocultar
Seu coração que sangrava