Impasse
Se ninguém fizesse poesia
o mundo seria talvez, mais realista,
mais pé no chão, menos escapista,
seria talvez, menos de imaginar
mais de fazer... menos de sentar à sombra
pra desenhar quimeras no ar
do que sair ao sol, pra trabalhar...
se ninguém detivesse, em momento algum
a sua enxada, e produzisse, o tempo todo
sem parar pra olhar o céu, as flores,
ou tudo que existe ao redor...
se ninguém tivesse esse estranho impulso
de brincar com as palavras, criar metáforas
imaginando-se pássaro ou borboleta...
enquanto o corpo suado cavasse a terra...
Se ninguém tivesse prestado atenção
ao ritmo da natureza e seus ouvidos não captassem
a música quase inaudível do universo
ali presente,desde a minúscula semente...
Se ninguém tivesse escutado, em algum momento,
o pulsar tranquilo ou apressado de seu coração
talvez não houvesse poesia, ou canção...
talvez, faltasse a música, mas sobrasse o alimento.
E, nesse impasse, não consigo fechar o meu poema.
Porque alguém veio cantar ao meu ouvido
toda realidade que essa poesia esconde...
e, por um momento desejei que ninguém jamais
houvesse abandonado sua enxada...
em troca de um sonho...que não vale quase nada...