Era uma vez um menino
Era uma vez um menino
que conheceu uma flor;
sentia sede e calor
e tudo lhe era ferino.
A flor lhe disse que o vento
lhe machucava nas folhas,
e que não tinha escolhas,
na terra a todo momento.
— Mas como é triste esta vida
de flor ferida na terra!
Toda formiga, uma guerra
da qual eu saio exaurida!
Correu, então, o menino
para apanhar a garrafa,
pois quando a flor se estafa
deve regá-la o bambino.
E a flor, emocionada,
desejava agradecer
pelo tamanho prazer,
pela sede saciada.
O menino, saltitante,
todo dia retornava
a ver como a flor estava
naquele sol escaldante.
Já a flor era feliz
tendo água e tendo amor
do menino cumpridor
lhe curando a cicatriz.
E o menino era contente;
ter para si uma flor,
e de tão gostoso odor,
lhe esperando alegremente.
Mas um dia, quando vinha,
para regá-la, choveu.
E que aguaceiro se deu!
E como ria a florzinha!
A garrafa do menino
aparentou-se menor,
e quando olhou ao redor
viu a chuva do Divino.
Mas que mágoa! Dissabor!
Pois a flor ficou completa!
Já da água está repleta,
já é grande seu vigor!
O menino, acabrunhado,
dirigiu-se para casa.
— Minha água se defasa
ante a chuva — desbotado.
E o menino desbotou-se
mais e mais a cada dia,
pois sem ele a flor crescia
e pois dele despojou-se.
— Minha flor! Minha querida!
Que saudade tenho dela!
A paixão é tão singela,
sua falta tão sentida!
E a flor, emocionada,
com a chuva que lhe vinha
nunca mais buscou mezinha,
nunca mais buscou mais nada!
26/03/2021