Observa-dor

Olho para minhas dores, com honestidade, verdade e coragem.

Esforço contínuo para não me endurecer.

Esforço estável para que a docilidade, a delicadeza e a entrega ainda resistam ao que quer que tenha tentado me convencer que é inútil.

Olho para a imagem refletida no espelho e vejo como não vi antes.

Olho agora sem o véu da fantasia.

Com lentes mais sensíveis.

Como quem se autoriza...

A viver o amor com leveza e liberdade.

Como quem desloca, movimenta e dá contorno novo.

Como quem se esforça para desprender dos pesos, das dores, dos desamores.

Olho e não só vejo, como enxergo.

E enxergando traço de novo a estrada.

Não só como quem olha.

Mas, como quem olhando, vê.

E vendo, vou aos poucos me curando de mim.

Olho com honestidade, verdade e coragem.

Para me relembrar de que sou projeto inacabado.

Processo que permite ajustes.

Ser-humano-falho-bonito-falho-humano.

E eterno vir a ser.

Olho com honestidade, verdade e coragem.

Como quem se percebe.

Como quem observa-dor.

Como quem se propõe a se acolher com tudo quanto é e deu-se conta de ser.

Olho, sabendo que quando se olha com honestidade, verdade e coragem, não se pode mais viver como quando não se tinha olhado.

Mariany Mendes
Enviado por Mariany Mendes em 22/03/2021
Código do texto: T7213563
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