POEMA DE UM AMOR POSSÍVEL.

Quando o outono

recolher para o repouso,

pegarei meu casaco

rasgado e minha bota

de couro cru,

e sairei a sua procura,

ah, levarei meu cantil

e meu ópio .

Sairei ainda de manhã,

antes que as estrelas

se recolham,

vencerei o frio , e beberei

o sumo da aurora.

Meus passos lentos

meu corpo velho e encurvado

transporá as montanhas de minas,

sentirei o suor derramar

sobre minha face sulcada,

a você esse esforço compensa.

Mas onde encontrar-te?

Oh Deus, guie-me por

esses vastos espinhos,

a ela doarei minhas ultimas

gotas de suor e saliva.

Sei que habita as ociosas

ruas da metrópole,

sei que come e bebe dos restos

que bocas não comem,

sei que morre por amor

a esse caminhante sem destino.

Agora, esse grosseiro velho,

que caminha na dor, morrerá por ti,

as flores esquecidas na estrada

me traz seu perfume,

o gorjeio das aves traz

tua alma que canta em mim.

O dourado da noite de lua

recairá sobre esse corpo,

ninguém sofrerá comigo,

comerei os diabos das noites,

beberei o vinho amargo

da ultima despedida.

Mas ao amanhecer o dia,

retomarei meu destino,

por amor serei, e sendo

seremos o abraço dos astros

numa noite escura.

Quando pisar na avenida

ver as flores tristes dos canteiros centrais,

estarei certo de estar a um passo

da felicidade sem fim,

a você , amada pertenço,

e que, se for noite, que a luz

alumie o que antes contemplava.

Cairei a teus pés , como uma folha

que despenca para se encontrar,

passarei minhas mãos anciãs

no que sobrou do teu rosto,

ajeitarei seus cabelos,

como antes fazia,

a meu amor, de joelhos

te pedirei perdão.

como um fiel pedindo a Deus

a glória do céu.

Se deixar, abraçarei-te corpo e alma,

mergulharei no que resta de seu universo,

ali mesmo sobre o aval das marquises,

retomarei nos braços,

escutarei seus sussurros,

declamarei o poema que escrevi

no caminho,

te darei uma rosa,

e olharei se teus olhos ainda brilham.

Depois do vão deste sonho,

da dor da espada que me corta,

acenderei um cigarro em seu nome,

fumaremos juntos como antes,

beberemos pinga barata,

sorrimos ou choramos,

passeamos em nossas faces enrugadas,

tocaremos nossas partes perdidas,

voltaremos ao nosso lar,

essa casa velha, fria e mórbida,

que encanta as montanhas de Minas.

Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 22/03/2021
Reeditado em 22/03/2021
Código do texto: T7213480
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