Pequenas histórias 232

Imobilizo os pés

Imobilizo os pés em direção ao peito

Imobilizo as mãos para não machucar a carne

Parado no ar

Meu corpo concretiza o instante

Em que beijo a carne de encontro a pele

E beijo mais uma vez

Até que lentamente caio ao chão flutuando como uma pena

E deitado ao teu lado

Concilio o momento num só

Rasgo a ferida ao sol do corpo

Penetro a pele amaciando o útero afogado

Em anseios no medo de viver a alegria suprema

Somos um no outro o que somos

Vivemos a vida de cada um independente do que somos

Cruzo os limites dos passos pisando em vidros retorcidos

Pelos ferros calcinados no fogo das vaidades

Navego em direção à morte recorrendo-me

Às palavras não ditas espalhadas no coração

Frio de ser só

Um a um meus companheiros amigos deixam

Vestígios na estrada para que

No futuro perto

Possa encontrá-los no paraíso bar

Não fujo

Luto escondido

Das bravatas insignificantes

Que só fazem espalhar incerteza

Do que ainda tenho para viver

Na boca escancarada

Beijo a ferida cancerosa

No sêmen ejaculado

No tronco das árvores

Onde meus pés imobilizados

Não alcança o peito

Pastorelli
Enviado por Pastorelli em 19/03/2021
Código do texto: T7210614
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