Pequenas histórias 232
Imobilizo os pés
Imobilizo os pés em direção ao peito
Imobilizo as mãos para não machucar a carne
Parado no ar
Meu corpo concretiza o instante
Em que beijo a carne de encontro a pele
E beijo mais uma vez
Até que lentamente caio ao chão flutuando como uma pena
E deitado ao teu lado
Concilio o momento num só
Rasgo a ferida ao sol do corpo
Penetro a pele amaciando o útero afogado
Em anseios no medo de viver a alegria suprema
Somos um no outro o que somos
Vivemos a vida de cada um independente do que somos
Cruzo os limites dos passos pisando em vidros retorcidos
Pelos ferros calcinados no fogo das vaidades
Navego em direção à morte recorrendo-me
Às palavras não ditas espalhadas no coração
Frio de ser só
Um a um meus companheiros amigos deixam
Vestígios na estrada para que
No futuro perto
Possa encontrá-los no paraíso bar
Não fujo
Luto escondido
Das bravatas insignificantes
Que só fazem espalhar incerteza
Do que ainda tenho para viver
Na boca escancarada
Beijo a ferida cancerosa
No sêmen ejaculado
No tronco das árvores
Onde meus pés imobilizados
Não alcança o peito