CHUVA IN HOME
Por um instante desconheci o ruído
Parei o home e agucei os ouvidos
Chuva mesmo. Gotas no telhado e na janela
Pareceu-me algo distante no tempo
Confinado no escritório não percebia o clima
O tempo deixa a mente dispersa
A solidão direciona os olhos para um ponto fixo
O teclado é a sonoplastia do isolamento
Meu corpo isolado e producente
Absorto no trabalho esqueci do mundo
A chuva me despertou e eu quis vê-la de perto
Água pura, energizada
Capaz de afastar qualquer cepa
E o vento bom levando todo mau agouro
Asseando o espaço contido em mim
Lavar as mãos, soprar as mãos
Higienizar cada canto, todo meio
Sensação de pureza duradoura
Nos trovões buscar aquilo que afugenta
Cada raio reluzir o escuro da agonia
Uma doença que abarca o mundo
Vezes de choro torrencial
Todo luto envolto em interrogações
Um sem-fim de leitos habitados
Tudo sem porvir. Acabar um dia
Como um enigma antigo mas solucionável
Os braços só querem doer à picada